REVISTA DE CRIMINOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS
http://www.rcc.periodikos.com.br/article/632403dda9539545c0698663
REVISTA DE CRIMINOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS
Artigo

Do risco ao dano: crítica à lógica da financeirização no caso da barragem de Mariana - MG

Diego da Rosa dos Santos, Marcelo Mallet Siqueira Campos

Downloads: 3
Views: 196

Resumo

A financeirização se tornou uma estrutura sistêmica do capitalismo moderno desde o final do século XX. A hierarquia corporativa de investidores fora do ambiente produtivo e sua constante necessidade de receber indicadores positivos dos agentes administrativos afeta diretamente a tomada de decisão dos administradores. Entretanto, a teoria econômica pouco tem se preocupado com as consequências da financeirização para além da firma. Um exemplo disso se encontra nas empresas de mineração, sabidamente alocadas dentro da lógica da financeirização. Desta forma, é necessário compreender se casos como o rompimento da Barragem do Fundão em Mariana (MG), operada pela empresa Samarco, estão relacionados a essa omissão. Portanto, a pergunta que norteia este estudo é: a omissão em desastres ambientais, como visto em Mariana, poderia ser decorrente de decisões deliberadas em benefício de um indicador positivo? Com um delineamento observacional, a investigação buscou analisar de forma crítica os diversos documentos sensíveis ao caso, do ponto de vista interno e externo. Os resultados demonstram que as condutas de gestão de risco da Samarco eram paliativas, e que a instrução do conselho de governança era a restrição dos custos, tendo autorizado a distribuição de lucros e dividendos mesmo sabendo das não conformidades da barragem.

Palavras-chave

Risco; Dano; Financeirização; Teoria econômica do crime; Gestão de risco.

Referências

BECKER, Gary S. Crime and punishment: an economic approach. Journal of Political Economy, Chicago, vol.76, n.2, p.169-217, 1968. DOI: https://doi.org/10.1086/259394

BECKER, Gary S. Irrational behavior and economic theory. Journal of Political Economy, Chicago, vol. 70, n.1, p. 1-13, fev. 1962.

BELLUZZO, Luiz Gonzaga; SARTI, Fernando. Vale: uma empresa financeirizada. Le Monde Diplomatique, 10 de fevereiro de 2019. Disponível em: https://diplomatique.org.br/vale-uma-empresa-financeirizada/

CAMPOS, Marcelo M. S. Money manager capitalism e os rompimentos de barragens de rejeitos do Brasil. In: CATTAN, Rafael (Org.) Dossiê Especial AKB ECOECO – O Desafio contemporâneo: construindo novas narrativas para a economia, p. 40-50, 2021

CRESSEY, Donald R. Other people's money: a study in the social psychology of embezzlement. Glencoe: The free press, 1953.

CRESWELL, John W.; MILLER, Dana L. Determining validity in qualitative inquiry. Theory Into Practice, [s.l.], vol. 39, n. 3, p. 124-130, 2000. DOI: http://dx.doi.org/10.1207/s15430421tip3903_2

DAVIDSON, Paul. Is economics a science? Should economists be rigorous? Real-world economic review, [s.l.], n. 59, p.58-66, 2012.

FARIA, Mário P.; BOTELHO, Marcos R. O Rompimento da Barragem de Fundão em Mariana, Minas Gerais, Brasil: a incubação de um Acidente Organizacional. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional, on line. 2018, vol. 5, p. 73-85. DOI: https://doi.org/10.31252/RPSO.01.05.2018.

GIGERENZER, Gerd. On narrow norms and vague heuristics: a reply to Kahneman and Tversky. Psychological Review, [s.l.], n. 103, vol. 3, p.592-596, 1996.

GROUHY, Michel; MARK, Robert; GALAI, Dan. Gerenciamento de risco: abordagem conceitual e prática. São Paulo: QualityMark, 2004.

GUTTMANN, Robert. Uma introdução ao capitalismo dirigido pelas finanças. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, vol. 82, p. 11-33, nov., 2008

HOPE, Warren T. Introdução ao Gerenciamento de Riscos. Rio de Janeiro: FUNENSEG, 2002

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA - IBGC. Gerenciamento de riscos corporativos: evolução em governança e estratégia. Série Cadernos de Governança Corporativa, 19. São Paulo: IBGC, 2017.

JENSEN, C., & MECKLING, H. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure, Journal of Financial Economics, [s.l.], vol. 3, n. 4, p. 305-360, 1976.

KEYNES, John Maynard. A treatise on probability. London: MacMillan, 1921.

KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. Porto Alegre: Saraiva, 2015.

KNIGHT, Frank H. Risk, uncertainty and profit. Boston: Houghton Muffins Company, 1921.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF). Procedimento Investigatório Criminal (PIC) - MPF n.º 1.22.000.003490/2015-78

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF). Procedimento Investigatório Criminal (PIC) - MPF n. º1.22.000.000003/2016-04.

MINSKY, Hyman. Uncertainty and the Institutional Structure of Capitalist Economies. Journal of Economic Issues, Londres, 30(2), p. 357-368, 1996.

MINSKY, Hyman. Estabilizando uma economia instável. São Paulo: Novo Século, 2010.

QUEVEDO, Jéssica V. Verbete: Risco. In: FRANÇA, L. A.; QUEVEDO, J. V.; ABREU, C. A. F. (Orgs.) Dicionário Criminológico. 2.ed. Porto Alegre: Canal Ciências Criminais, 2021. Disponível em: https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/risco/57

SAMARCO. Código de conduta. Revisão 8, 2019. Disponível em: www.samarco.com.

SAMARCO. Política de prevenção de corrupção e fraudes. Revisão 4, GGCM, março de 2017. Disponível em: www.samarco.com.

SANTOS, Diego R. Verbete: Teoria de agência. In: FRANÇA, L. A.; QUEVEDO, J. V.; ABREU, C. A. F. (Orgs.) Dicionário Criminológico. 2.ed. Porto Alegre: Canal Ciências Criminais, 2021a. Disponível em: https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/teoria-de-agencia/88

SANTOS, Diego R. Verbete: Teoria econômica do crime. In: FRANÇA, L. A.; QUEVEDO, J. V.; ABREU, C. A. F. (Orgs.) Dicionário Criminológico. 2.ed. Porto Alegre: Canal Ciências Criminais, 2021b. Disponível em: https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/teoria-economica-do-crime/90

SIMON, Herbert. A Behavioral Model of Rational Choice. In: Models of Man, Social and Rational: Mathematical Essays on Rational Human Behavior in a Social Setting. New York: Wiley: 1957

SUTHERLAND, Edwin. White-collar criminality. American Sociological Review, [s.l]. n. 5, vol. 1, p. 1-12, fev. 1940.

VEBLEN, Thorstein. The Limitations of Marginal Utility. Journal of Political Economy, Chicago, v. 17, n.9, p. 620-636, nov, 1909.

VEBLEN, Thorstein. The Theory of Business Enterprise. New York: Charles Scribner’s Sons, 1920.


Submetido em:
20/01/2022

Revisado em:
25/04/2022

Aceito em:
09/05/2022

632403dda9539545c0698663 rcc Articles
Links & Downloads

RCC

Share this page
Page Sections